quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Dia da Consciência Negra - Guarulhos

MANIFESTO - NOVEMBRO NEGRO 2011

Marchamos, mais uma vez, pelas ruas de Guarulhos, neste 20 de novembro. Há 316 anos, Zumbi[1], comandante da República de Palmares (a maior experiência de enfrentamento  ao sistema escravista nas Américas), era emboscado, morto e projetado para a eternidade.

Ao marcharmos, assumimos o nosso papel como sujeitos da história, reescrevendo-a nos livros abertos[2] das ruas de Guarulhos. Diante da Escola Estadual  Conselheiro Crispiniano, que homenageia um símbolo dos homens livres e letrados do Brasil Império, e da Rua  D. Pedro II, afirmamos a existência de mulheres e homens pretos, escravizados e analfabetos, segregados na igreja hoje reduzida a uma marca gravada no chão do Calçadão.

Abolida a escravidão, demolido o nosso patrimônio, restou-nos a tarefa de reconstruir a nossa identidade. Por isso marchamos, todos os anos, sob o olhar misterioso da mãe negra, cuja cabeça repousa num pedestal da Praça Getúlio Vargas. Quem sabe ela guarda em segredo o nome dos seus filhos, enterrados no  mesmo Cemitério São João Batista de tantos munícipes ilustres?

Por isso marchamos. Seguimos pela antiga Rua 13 de Maio, hoje chamada Luiz Gama. É também em sua homenagem que marchamos, este ano lembrando outros herdeiros, como nós, de sua trajetória: Abdias do Nascimento, Ruth de Souza, Mãe Menininha, Milton Santos, Kabenguele Munanga, André Rebouças, aos quais se reuniram os guarulhenses Babá Tereza, Mestre Mirão e Pedro Moisés.

Seu exemplo ilumina nossos corações e  mentes, enriquecendo a marca de nossa memória gravada no chão do Calçadão. Revigorados por essas presenças, alcançamos o trecho final da nossa marcha de 2011,  o Ano Internacional dos Povos Afrodescendentes.[3] É nessa condição que avançamos pela Avenida Monteiro Lobato, cobrando dignidade para a Tia Nastácia e Tio Barnabé.[4]

Derrotado o gigante Adamastor em águas africanas, fomos transplantados para as Américas, temperando com o nosso sangue as águas do “mar português” [5] e ampliando as trocas culturais entre os povos do planeta. Por isso, em 20 de novembro de 2011, Afrodescendentes de todo o Brasil marcham pelas ruas, reivindicando as políticas previstas pelo Estatuto da Igualdade Racial, para o devido reconhecimento da nossa contribuição e superação das profundas desigualdades raciais.


[1]               O nome de Zumbi foi inserido no Livro dos Heróis da Pátria em 1997.
[2]               Tuas praças são livros abertos: verso do Hino a Guarulhos, lançado em 1960.
[3]               Em 2009, a Assembleia Geral das Nações Unidas proclamou 2011 o Ano Internacional dos Povos
         Afrodescendesntes. A proclamação é uma das conseqüências da III Conferência Mundial contra o
         Racismo, realizada em   Durban, na África do Sul, em 2001.
[4]             Tia Nastácia e Tio Barnabé, personagens negros estereotipados, criados pelo escritor Monteiro Lobato
         em 1920.
[5]               Mar Português, poema de Fernando Pessoa publicado em 1934.

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